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Armadilhas do sucesso: não confunda motivação com euforia

Entre os fatores mentais da motivação, três merecem consideração especial: visão do futuro, significados que damos para as coisas e o foco. Por José Augusto Wanderley

Por José Augusto Wanderley

Não resta a menor dúvida de que a motivação é um dos fatores determinantes do sucesso. Por isto mesmo, é um tema muito abordado mas que frequentemente é tratado com superficialidade, simplismo, frases de efeito, chavões e slogans. E para piorar, há mesmo muita confusão entre motivação e euforia. A verdadeira motivação tem a ver com paixão, entusiasmo, energia e determinação implacável. E de acordo com Albert Ellis, o criador da TCER - Terapia do Comportamento Emotivo Racional, “a determinação implacável representa por volta de três quartas partes da vitória”. A verdadeira motivação, portanto, é duradoura. É como fogo de lenha. Euforia é fogo de palha, é momentânea e passageira. É também conhecida como motivação oba-oba.

A motivação positiva e a motivação negativa

Assim sendo, é importante que se aprofunde a questão e se constate que a motivação não é boa em si, pois existe a motivação positiva e a negativa. Uma motivação é positiva quando aquilo que uma pessoa faz é bom para ela, para os outros e para o universo. É negativa quando é ruim para ela para os outros e para o universo. Um drogado, por exemplo, está muito motivado para comprar e consumir drogas. E o reverendo Jim Jones motivou mais de 900 pessoas a cometerem o maior suicídio coletivo da História, o chamado Massacre de Jonestown, na Guiana Inglesa. Além disto, uma pessoa extremamente motivada, mas que não sabe tomar decisões, em função de precipitações, erros de julgamento ou desconhecimento do processo decisório, pode estar colocando a sua energia motivacional no caminho da catástrofe. Portanto, se queremos compreender o papel e a função da motivação, precisamos adotar uma abordagem holística, entendendo que motivação é um dos fatores necessários para o sucesso. Importantíssimo é bem verdade, mas que está longe de ser único, pois de nada adianta motivação sem, por exemplo, a capacidade de compreender, avaliar e decidir. Ou dizendo de outra maneira, sem sabedoria.

Primeiro, entendendo o que desmotiva

Em termos de motivação propriamente dita, pode ser bom se começar por entender o que desmotiva. Existem fatores externos e internos. Entre os fatores externos estão, entre outros, a falta de reconhecimento, as injustiças e as palavras assassinas. Palavras assassinas são o que ouvimos quando vamos buscar algum tipo de desenvolvimento, melhoria ou inovação. É para botar água fria no entusiasmo, como por exemplo: “aqui não adianta tentar nada novo”, “não se mexe em time que está ganhando”, ”vamos lá, fala sério, mas isso é uma droga” ou pior ainda, “o último que apareceu com essa idéia, já mandaram embora”. E para agravar ainda mais é que de tanto se ouvir palavras assassinas, nós as internalizamos e elas passam a ser uma verdade para nós, ou seja, passam a fazer parte do nosso sistema de crenças. E quer você acredite que pode, quer você acredite que não pode, você está certo. Ou seja, se não soubermos como tratar com as palavras assassinas, elas acabam se transformando em sabotadores internos, que levam à auto sabotagem.

Os aspectos físicos da motivação

O que normalmente as pessoas não se dão conta é que a motivação tem um suporte físico, ou seja, devemos ter presente a relação corpo-mente. E tudo começa pelo corpo e pela sigla SRRED, isto é, sono, respiração, relaxamento, exercício e dieta. Quem dorme sistematicamente mal, já está em desvantagem e sem qualidade do sono não há qualidade de vida. Mais ainda, o cérebro se alimenta de glicose e oxigênio e quem respira mal e se alimenta de forma imprópria, já está comprometendo seu próprio funcionamento. E quem está sempre tenso e não sabe relaxar, como vai funcionar com propriedade? Portanto, se o seu SRRED está comprometido, a sua motivação também está. É sempre conveniente lembrar que o cérebro, embora só tenha 2% do peso total, consome cerca de 20% da energia que produzimos.

Os aspectos mentais da motivação

Entre os fatores mentais da motivação, três merecem consideração especial: visão do futuro, significados que damos para as coisas e o foco. Victor Frankl, um psiquiatra austríaco que foi internado num campo de concentração nazista, constatou que os prisioneiros que sobreviviam tinham um projeto de futuro, ou seja, uma visão. Assim, a esperança é um dos alimentos da motivação.

O outro fator é o dos significados que damos para as coisas. É a história de três operários que estavam fazendo uma mesma obra e quando perguntados sobre o que faziam responderam respectivamente: estou assentando pedras, estou fazendo uma escada, estou construindo uma catedral. O que é importante registrar é que estamos sempre dando significados a tudo que fazemos ou nos acontece. E frequentemente não temos consciência disto. Assim, a grande questão é saber qual é o significado que estamos dando para a nossa própria vida. Será que estamos construindo uma catedral ou assentado pedras? Se você quiser se motivar, construa catedrais.

Um terceiro ponto importante do processo motivacional é a questão do foco. Aquilo que focamos define a motivação. Se você quiser ficar mal, para baixo e deprimido é muito fácil. É só começar a lembrar de tudo de ruim que lhe aconteceu na vida, nas vezes em que fracassou e foi rejeitado. Ou então, em todas as mazelas e desgraças do mundo. E ainda por cima, fique remoendo bastante, fique alimentado bem tudo isto. O fato é que de 75% a 90% do que pensamos não serve para nada, é lixo ou pior ainda, pode ser veneno para a mente. É por isto que Buda já dizia no século VI a.C., “tudo o que somos é resultado do que pensamos”.

Os aspectos emocionais da motivação

Tudo o que o ser humano faz é baseado num mecanismo emocional básico: buscar o prazer e evitar a dor. E este mecanismo pode ser profundamente traiçoeiro e perigoso, pois a tendência é fugir da dor e buscar o prazer de curto prazo, ignorando as consequências de médio e longo prazo. Mas para ter sucesso é preciso vencer a barreira da dor de curto prazo, pagar o preço, a fim de alcançar o prazer de longo prazo. Toda grande realização passou pela dor de curto prazo. Nada jamais é alcançado por aqueles que desistem quando as coisas se tornam difíceis. Qualquer tipo de disciplina exige passagem pela dor. E o que pode ser trágico é que quem evita dor de curto prazo pode ter dor de longo prazo.

E para exemplificar tudo isto, nada melhor do que o depoimento de Cesar Cielo depois da vitória no Campeonato Mundial de Natação de 2009 em Roma.

“Medalha de ouro com recorde mundial, a emoção é muito grande. É um sonho sendo realizado. Agora está doendo o corpo inteiro. Eu sabia que ia doer, mas está valendo muito a pena essa dor. É a maior alegria que eu poderia ter”.

É isto o que faz a verdadeira motivação. Já a euforia e a motivação oba-oba são a véspera do fracasso e da derrota. Lembrai-vos da Copa do Mundo de Futebol de 2006.

José Augusto Wanderley é consultor e palestrante. Autor do livro “Negociação Total”

E-mail: jawander@jawanderley.pro.br 

Sites: www.jawanderley.pro.br



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